Pensamentos maternos indesejados sobre danos ao bebê são comuns e geram angústia
Quase todas as mães grávidas e puérperas vivenciam pensamentos indesejados e intrusivos sobre danos causados a seus bebês. Apesar de causar tanta angústia e sofrimento, o motivo dessas ocorrências ainda são desconhecidos pela ciência. Em seu novo artigo publicado, a professora e pesquisadora em saúde mental, Susanne Schweizer, abordou sobre os pensamentos intrusivos e a ansiedade periparto.
Susanne explica que praticamente todas as mulheres têm pensamentos de danos acidentais ao bebê. Como, por exemplo, de ideias de sufocamento, da criança cair do trocador ou do carrinho de bebê rolar para longe. Mas cerca de metade de todas as mulheres também têm pensamentos intrusivos de prejudicar intencionalmente seus filhos.
“Isso é incrivelmente angustiante. É realmente, como humano, a coisa mais terrível que você pode pensar em prejudicar qualquer criança, muito menos a sua”, disse Susanne, à revista científica Science Advances, que publica artigos de pesquisa.
Segundo a pesquisadora, na psicologia isso é definido como egodistônico. São pensamentos conflitantes com o ego, com todo o sistema de crenças e de valores do indivíduo. “Você ama muito essa criança e certamente não quer machucar, mas de repente você tem esses pensamentos”.

Como lidar com os pensamentos perturbadores
Existem duas formas mais comuns de lidar com as ocorrências destes pensamentos perturbadores. A primeira é aceitar que se trata simplesmente de um pensamento intrusivo sobre o qual não se tem controle. Que isso tenha alguma utilidade para o cérebro primitivo que busca proteger o bebê. “E então eu posso deixar isso de lado”.
Outra opção é avaliar esses pensamentos de forma negativa, como se fosse uma mãe ruim. Que está tendo esses pensamentos porque não pode amar verdadeiramente o filho. Isso só vai piorar a situação.
“Se eu tiver um pensamento assim, ou se eu pensar coisas ao longo da linha, que isso deve significar que estou ficando louco, isso não é normal”, alerta Susanne, lembrando que esses tipos de avaliações tornarão esses pensamentos mais angustiantes.
A situação pode piorar se houver uma fusão pensamento-ação. Neste caso, a pessoa tem uma distorção cognitiva, acreditando que pensar sobre uma ação é o mesmo que agir de acordo com ela. Esses pensamentos distorcidos, por sua vez, podem levar a outro fator cognitivo: o pensamento negativo repetitivo. Assim, a pessoa fica presa num ciclo de pensamentos perturbadores.

Em seu estudo, a pesquisadora Susanne Schweizer concluiu que os pensamentos intrusivos pós-parto são comuns em novas mães. Perto de 100% relataram pensamentos de danos acidentais acontecendo com seus filhos, e aproximadamente 50% tiveram pensamentos intrusivos de prejudicar intencionalmente seus filhos. (crédito da foto: UNSW Sydney)
Mudanças nos hormônios
A ciência não sabe se existe alguma influência da sensibilidade hormonal durante o período perinatal. Sabe apenas que, durante esse período, as mudanças nos hormônios da mulher são maiores do que em todos os outros períodos de mudanças hormonais combinadas ao longo da vida.
Uma das linhas de estudo poderia ser observar como uma mulher responde a mudanças hormonais durante seu ciclo menstrual, e então descobrir se algo ali sugere que a gravidez terá um efeito mais forte naquela mulher.
Sobre essa possibilidade, Susanne diz que as pesquisas ainda não chegaram neste ponto. Mas que acredita que isso vai ser altamente preditivo de suscetibilidade a problemas de saúde mental perinatal em geral.
“Se olharmos para a literatura sobre traumas, podemos ver que memórias intrusivas e a experiência de memórias intrusivas têm sido associadas a mudanças nos hormônios sexuais femininos”, lembra a pesquisadora.
Tratar pensamentos intrusos é possível com Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). Esse tipo de terapia é o mais indicado e, segundo a literatura, com sucesso significativo em 75% dos pacientes.
FONTE: com informações Susanne Schweizer, psicóloga, pesquisadora em saúde mental e professora associada científica da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.






