Tribo Quântica

o seu portal holístico

Por que ajudamos nossos amigos quando precisam?

Apesar de a amizade parecer algo natural, as pessoas raramente param para analisá-la. Como saber se alguém será um bom amigo? Quando é hora de deixar uma amizade para trás? Muitas vezes, as pessoas se baseiam em intuições para responder a essas perguntas.

Na pesquisa em psicologia, não existe uma definição universalmente aceita de amigo. Tradicionalmente, quando os psicólogos analisam a amizade, costumam fazê-lo sob a ótica da troca. O quanto aquele amigo fez por mim? O quanto fiz por ele? A ideia é que as amizades são transacionais, onde os amigos permanecem por perto somente enquanto recebem pelo menos tanto quanto oferecem na amizade.

Para alguns estudiosos, porém, esse foco não capta o que muitas pessoas consideram a essência da amizade. Uma nova pesquisa sugere outro modelo de relacionamento — chamado de compartilhamento de riscos — que se encaixa melhor na experiência da maioria das pessoas.

Nesse tipo de amizade, ninguém fica contabilizando quem fez o quê para quem. Pelo padrão baseado na partilha de riscos em vez da troca de favores, a amizade é vista como essencial para que nossos ancestrais sobrevivessem aos desafios que enfrentavam.

Assim, como este modelo é hoje essencial para sobreviver aos desafios da vida atual — seja para lidar com dificuldades pessoais ou com desastres naturais.

O modelo da partilha de riscos foi explicado em recente artigo, publicado por Jessica D. Ayers, professora assistente de ciências psicológicas na Universidade Estadual de Boise, juntamente com Athena Aktipis, professora associada de psicologia na Universidade Estadual do Arizona.

(foto: Freepik)

Partilha de riscos

Mas como as amizades realmente ajudam as pessoas a sobreviver? Essa é uma das questões que Jessica e Athena investigaram como parte do Projeto Generosidade Humana — uma pesquisa transdisciplinar sobre a inter-relação entre as influências biológicas e culturais na generosidade humana.

Segundo elas, o padrão de amizade baseado na partilha de riscos em vez da troca de favores é algo que encontramos em diversas sociedades. Desde o “kere kere” em Fiji até o “tomor marang” entre os Ik em Uganda. As pessoas ajudam os seus amigos em momentos de necessidade sem esperar nada em troca.

Os Maasai, um grupo indígena do Quênia e da Tanzânia que depende da criação de gado para sobreviver, cultivam amizades em que se sentem acolhidos e auxiliam em momentos de necessidade, sem esperar nada em troca.

As pessoas pedem ajuda a esses amigos especiais, chamados de parceiros osotua, somente quando realmente precisam, e eles ajudam se forem solicitados e tiverem condições de fazê-lo.

(foto: Henrik Hansen / Unsplash)

Essas parcerias não se resumem a favores cotidianos — pelo contrário, tratam-se de sobreviver a riscos imprevisíveis, que podem mudar vidas. Os relacionamentos Osotua são construídos ao longo de uma vida inteira, transmitidos através de gerações e frequentemente marcados por rituais sagrados.

Esses relacionamentos levam a taxas de sobrevivência mais altas para ambos os parceiros, em comparação com aqueles baseados no controle de favores.

Esses amigos atuam como sistemas de seguro social uns para os outros, ajudando-se mutuamente quando surgem necessidades devido a eventos imprevisíveis e incontroláveis.

Seguro contra catástrofes

O que a pesquisa de Jessica e Athena sugere é que a amizade tem mais a ver com estar presente um para o outro quando ocorre um desastre imprevisível. A amizade parece mais um plano de seguro criado para entrar em ação quando você mais precisa do que um sistema de troca equilibrada.

O que permite que essas parcerias perdurem não é somente a generosidade, mas também a moderação e a responsabilidade: os Maasai esperam que seus parceiros osotua cuidem de si mesmos quando puderem e que peçam ajuda apenas quando realmente precisarem. Esse equilíbrio entre cuidado, respeito e autogestão oferece um modelo útil.

Em um mundo de crescente incerteza, cultivar amizades que permitam compartilhar riscos e se esforçar para ser um bom parceiro pode ajudar a desenvolver resiliência. Nossos ancestrais sobreviveram com a ajuda desse tipo de relacionamento; nosso futuro também pode depender deles.

Fonte: com informações de Jessica D. Ayers e Athena Aktipis para o The Conversation.

LEAVE A RESPONSE

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *