Como lidar com doenças mentais no trabalho
Os problemas de saúde mental podem afetar qualquer pessoa, independentemente da origem ou circunstância, e estão se tornando mais comuns. Ansiedade, depressão e outros tipos de transtornos podem ter um efeito profundo e duradouro na vida dos pacientes, incluindo sua capacidade de se envolver de forma significativa e sustentável no serviço.
Para quem sofre de doenças mentais, a expectativa tradicional de manter uma separação estrita entre a vida pessoal e profissional não só é irrealista como pode até ser prejudicial.
O efeito em cada caso varia dependendo do tipo, gravidade e duração dos sintomas. Na depressão grave, pode afetar os próprios cuidados básicos do funcionário, dificultando a realização de tarefas como tomar banho, comer ou até mesmo sair da cama.
A ansiedade grave também tem potencial de ser profundamente debilitante e limitar a capacidade de sair de casa devido ao medo intenso ou pânico. Os sintomas, quando tão graves, dificultam inclusive o comparecimento ao trabalho.
Por outro lado, alguém que sofre de depressão ou ansiedade leve pode ter problema para iniciar ou concluir tarefas que normalmente realizaria com facilidade e ter dificuldade para interagir com colegas. Tanto a depressão quanto a ansiedade podem afetar o sono, contribuindo para lapsos cognitivos e aumento da fadiga durante o expediente.
Alguém com Transtorno do Estresse Pós-Traumático pode descobrir que certos ambientes lembram experiências traumáticas, dificultando o engajamento total no trabalho. E uma pessoa que esteja vivenciando um episódio maníaco relacionado ao transtorno bipolar pode precisar se afastar completamente do serviço para se concentrar em sua estabilização e recuperação.
Estima-se que, globalmente, a depressão e a ansiedade causem 12 bilhões de dias de trabalho perdidos anualmente, custando cerca de US$ 1 trilhão (cerca de R$ 5,3 trilhões) por ano em perda de produtividade em todo o mundo
Saber quando pedir ajuda
Não é raro encontrar pacientes inseguros de como abordar conversas com suas escolas, programas ou empregadores sobre a saúde mental — especialmente quando se trata de tirar um tempo de licença para tratamento. A incerteza pode levar a atrasos na busca de ajuda médica.
Identificar um colega, supervisor ou representante de recursos humanos de confiança pode ser um primeiro passo importante para gerenciar sua saúde mental no trabalho.
Embora selecionar a pessoa apropriada para desabafar possa ser desafiador, a iniciativa pode abrir caminhos para recursos apropriados e serviços de apoio personalizados.
Além disso, pode incentivar um empregador a considerar oferecer acesso a cuidados de saúde mental gratuitos ou de baixo custo, caso ainda não estejam disponíveis. Há também a possibilidade de ajudar com horários flexíveis que facilitem o acesso dos funcionários a tratamentos médicos.
É importante estar atento às mudanças no seu estado mental. Quanto antes reconhecer os sinais de declínio, mais cedo poderá obter o apoio necessário, o que pode evitar que os sintomas piorem.
Por outro lado, compartilhar informações confidenciais com alguém que não está preparado para responder adequadamente pode levar a consequências indesejadas. Como surgimento de fofocas no ambiente de trabalho, além de expectativas não atendidas e aumento da frustração devido à percepção de falta de apoio.
No entanto, mesmo que seu supervisor ou gerente não seja compreensivo, isso não muda o fato de que você tem direitos no ambiente de trabalho.
(foto: Freepik)

Os índices de ansiedade e depressão aumentaram durante a pandemia de COVID-19. Mas uma consequência positiva é que falar sobre saúde mental se tornou mais normalizado e menos estigmatizado, inclusive no ambiente de trabalho
O papel do local de trabalho
O comprometimento de uma organização em apoiar a saúde mental dos funcionários pode ser importante na definição do desempenho produtivo da empresa. Em última análise, no sucesso da organização.
Depender dos funcionários para gerenciar a própria saúde mental não é uma estratégia sustentável de longo prazo para os empregadores. Isso pode levar a interrupções significativas no local de trabalho, como mais dias de trabalho perdidos e menor produtividade.
Estudos demonstram que, quando os empregadores lideram iniciativas direcionadas que promovem a saúde mental, o funcionamento geral do ambiente de trabalho e a resiliência melhoram.
Essas iniciativas podem incluir educar os funcionários sobre saúde mental, oferecer cuidados acessíveis, auxiliar os funcionários a ter um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional e elaborar políticas de apoio no local para aqueles que estão enfrentando dificuldades.
Essas medidas ajudam a reduzir o estigma e sinalizam aos funcionários que é seguro buscar apoio.
Adaptações ajudam
Existem muitas adaptações razoáveis para trabalhadores com doenças mentais. Isso inclui tempo protegido para comparecer a consultas médicas e flexibilidade nos horários de expediente.
Até mesmo uma flexibilização no próprio local de trabalho. Se a função permitir, trabalhar em casa pode ser útil. Se o serviço exige estar no local de serviço, um espaço privativo é outra opção razoável.
Alguém com ansiedade pode descobrir que trabalhar em um espaço tranquilo e privativo ajuda a reduzir as distrações que desencadeiam os sintomas, facilitando a concentração e a realização de tarefas.
Outras possíveis adaptações incluem a concessão de licença médica ou férias flexíveis para uso em consultas ou dias de saúde mental. Um outro benefício é permitir que o funcionário faça pausas de acordo com suas necessidades individuais, em vez de um horário fixo.
Fonte: com informações de Julie Wolfe para o The Conversation.
Julie Wolfe, MD, é professora assistente no Departamento de Psiquiatria do Campus Médico Anschutz da Universidade do Colorado.






