Perder um animal de estimação abre caminho para ensinar os filhos sobre morte e luto
A perda de um animal de estimação — seja um cão, gato, coelho ou outro pet — pode se tornar uma oportunidade para um profundo aprendizado emocional e influenciar como as crianças e adolescentes entendem e processam o luto quando adultos.
Pais e responsáveis, portanto, têm papéis importantes a desempenhar quando um animal de estimação morre. Além de ajudar as crianças a aceitar a dolorosa permanência da morte, os cuidadores podem orientá-las em um processo de luto saudável e reparador, que fornece uma base para lidar com uma parte inevitável da vida.
Psicólogos e especialistas em luto por animais de estimação explicam que as pessoas são muito avessas a falar sobre morte e luto, mas há uma coisa certa: todos vamos morrer. Precisamos estar abertos a falar sobre isso.
Aqui estão algumas coisas a considerar ao conversar com crianças sobre a morte e apoiá-las na perda de um animal de estimação.
As crianças respondem à morte de maneiras diferentes
Dependendo da idade e das circunstâncias individuais, a capacidade das crianças de compreender o conceito de morte varia. A maneira como se processa o luto, a sua duração e o impacto da perda também são únicos para cada criança, assim como para os adultos.
A tristeza, a raiva e outras emoções avassaladoras associadas ao luto podem ser mais difíceis de lidar para crianças mais novas, por isso, ter apoio é crucial. Algumas pessoas sentem a dor da morte de um animal de estimação tão intensamente quanto a perda de um familiar.
No caso das crianças, o relacionamento delas com o animal e se a morte foi repentina ou não são outros fatores que podem moldar as respostas individuais.
Especialista em perda e luto de animais de estimação, Colleen Rolland diz que os pais geralmente sabem o quão intelectual e emocionalmente seus filhos são capazes de processar a morte.
“Crianças de até 4 anos podem ter sido expostas à morte por meio de contos de fadas e outras histórias, mas podem ter dificuldade em compreender sua finalidade”, diz Rolland. “Crianças mais velhas, que sabem que sua perda é para sempre, podem precisar de mais apoio emocional de amigos e familiares”, completa.
Elizabeth Perez conta que aprendeu rapidamente como seus três filhos lidaram de forma diferente com a morte de sua cadela Zoe, atropelada por um automóvel na frente de sua segunda filha. As outras duas crianças estavam em casa.
A filha falava sobre como as imagens ficavam se repetindo em sua cabeça. Também tinha pesadelos e não conseguia dormir. Desde então, deixou de usar o vestido que estava naquele dia do acidente envolvendo a cadela.
A mãe lembra que ela e o marido passavam muito tempo com a filha, agora com 11 anos, e lhe faziam perguntas sobre seus sentimentos. Até a filha mais nova, que não viu o atropelamento e passou menos tempo com o cachorro, ainda chora ao lembrar do acidente em abril de 2024.
“Foi muito difícil para toda a família. Cada um estava sentindo de uma forma diferente e em momentos diferentes”, relata Perez. “Nós, como pais, não nos sentíamos preparados.”
Usando linguagem clara e evitando eufemismos
É importante ser honesto e usar uma linguagem clara ao discutir a morte com crianças. Os adultos costumam proteger as crianças com eufemismos, como “um animal de estimação dormiu, se perdeu ou foi sacrificado”.
Isso pode ser alarmante para as crianças e causar muita confusão e medo. Portanto, dizer “O peixe foi dormir” pode causar preocupações na criança na hora de dormir. Principalmente com crianças menores, porque elas são muito literais na maneira como as coisas são expressas a elas.
(foto: Freepik)

Apoie crianças que enfrentam sentimentos profundos
Às vezes, os adultos têm dificuldade em reconhecer o impacto que a perda de um animal de estimação, ao invés de um humano, pode ter nas crianças. Em geral, o luto infantil tende a ser banalizado, mas a perda do animal é uma forma muito real de luto.
Raquel Halfond, psicóloga clínica licenciada pela Associação Americana de Psicologia, diz que o comportamento das crianças geralmente indica como elas estão se sentindo, mesmo que não o expressem verbalmente.
“Talvez você perceba que seu filho está tendo mais birras. De repente, há coisas que ele adorava fazer e que não quer mais fazer. Talvez ele comece a se recusar a ir à escola. É normal ter essas birras por um tempo”, diz Halfond.
Outros sinais a serem observados incluem tristeza incomum, lágrimas, raiva e até silêncio. A resposta emocional de uma criança muitas vezes independe de sua disposição para falar sobre a morte, mas pode ser hora de procurar ajuda profissional se suas emoções ou comportamento afetarem sua capacidade no dia a dia.
É normal que adultos sofram
Assim como em outras situações ou estágios de desenvolvimento, as crianças aprendem geralmente a lidar com o luto observando seus cuidadores. A maneira como os adultos reagem à perda do animal de estimação servirá provavelmente de exemplo para seus filhos.
Por isso, os pais, ou cuidadores, devem estar confiantes em como lidam com a perda. “Os pais que não estão familiarizados com o luto ou apresentam comportamentos prejudiciais à saúde podem ensinar as crianças a agir da mesma maneira”, diz Colleen Rolland.
Dois dos cães de Meaghan Marr morreram quando seus dois filhos eram pequenos. A primeira a falecer, Sadie, tinha problemas de saúde recorrentes, então Marr conseguiu manter conversas constantes e preparar seu filho de 7 anos e sua filha de 4 anos.
“Meu filho entendeu definitivamente o que estava acontecendo. Embora minha filha estivesse triste, isso não a tocou tão profundamente”, relata Marr, que considera que muitas das emoções das crianças eram uma resposta ao seu próprio luto pelo animal.
A psicóloga Raquel Halfond aconselha os pais a não esconderem seus sentimentos dos filhos. “Se você estiver se sentindo triste, não tem problema que a criança veja você triste. Na verdade, pode ser confuso se algo triste acontecer e ela não vir essa emoção refletida nos pais”, diz.
Memórias para a vida toda
Uma maneira de ajudar as crianças a lidar com a morte de um animal de estimação é homenagear a vida dos companheiros falecidos por meio de atividades como arrecadar dinheiro para animais necessitados, fazer desenhos, realizar funerais ou fazer as coisas que seus animais de estimação amavam fazer.
Antes da morte da cachorra Sadie, Marr disse que muitas das conversas com os filhos giravam em torno de como os cães não vivem para sempre e um dia iriam para o céu. A parte difícil foi explicar que isso se aplicava a todos os animais de estimação.
“Conversamos sobre se eles ainda queriam animais, mesmo sabendo que eles não vão durar tanto quanto nós”, relata Marr. “É doloroso perdê-los, mas eles tornam a vida muito melhor enquanto estão aqui”, conclui.
Fonte: com informações de Cheyanne Mumphrey que escreve sobre tendências e tópicos de bem-estar para a Associated Press.






