O Caminho para Autenticidade
O que é ser autêntico? Nada é cem por cento autêntico. A autenticidade quase nunca é pura. Ser autêntico tem muito a ver com confiança. Confiar em você mesmo, e ser autorreferente.
Autorreferência pode ter um viés negativo. Quando nos referimos à autorreferência como a pessoa que é egocentrada e tudo no mundo acontece a partir dela. No entanto, o conceito de autorreferência, para o yoga, tem um significado oposto. Não estamos falando do ego como autorreferência, e sim da alma como autorreferência. Quando digo alma, podemos também nos referir ao Eu superior, o Self, o Eu observador. O ‘Eu’ que percebe a realidade com mais precisão e não a partir dos nossos condicionamentos.
Ser autorreferente não significa ser autossuficiente. Não gosto dessa noção, porque nos passa uma ideia de que não precisamos de ninguém. E isto simplesmente não é verdade. Somos naturalmente interdependentes. Precisamos ser e é bom que sejamos. É uma linha fina entre ter autonomia e independência e não precisar de ninguém. Podemos ter os dois. Sermos autônomos e independentes, mas entendendo até onde isso é verdade.
Para início de conversa, precisamos de todos os serviços que existem, como a companhia de luz, gás, transporte e muito mais, que fazem o nosso dia rodar, e para isso precisamos de todas essas pessoas. E do outro lado da moeda, precisamos que nossos filhos estejam bem para que possamos ter paz, e que o sol apareça todos os dias sem falta.
Não somos autênticos por uma série de questões. Uma leva à outra. Quando olho para fora em busca de reconhecimento e aprovação, estou na luta de corresponder à expectativa do outro. Logo, você se afasta cada vez mais da sua autenticidade. Ou seja, enquanto precisarmos da aprovação e reconhecimento externo para existir, não estamos sendo autênticos.
(foto: Freepik)

Tive uma professora na faculdade de psicologia que, uma vez, perguntou à turma:
“Vocês acham que a escolha de vocês por psicologia é autêntica?” Todos nós demos as nossas respostas, certos da nossa autenticidade. Mas a professora desbancou cada uma de nossas justificativas com dados históricos sócio-culturais, de como a nossa escolha foi influenciada por tanta coisa. O fato de sermos mulheres, cuidadoras natas, e por aí vai.
De fato, não é fácil ser autêntico, exige um mergulho muito profundo em si e um desapego muito grande ao famoso, ‘o que os outros vão pensar’, que nos escraviza tanto.
A vontade de ter filhos e ter um marido, não é autêntica. Aquela ideia incrível que você acha que ninguém nunca teve, pode ter certeza de que alguém já teve. Podemos, sim, nos aproximarmos da nossa autenticidade, mas vocês já perceberam que dá trabalho, né?
Somos viciados em buscar tudo do lado de fora, e simplesmente nos esquecemos de buscar as respostas internas. Mas nem paramos para pensar que isso é falta de autoconfiança, apenas estamos condicionados a perguntar primeiro para os outros. Pois bem, ser autorreferente é relembrar que estamos aqui e que podemos contar primeiro com nós mesmos. Qual foi a última vez que você contou consigo mesmo primeiro, antes de recorrer a algo externo? Ser autorreferente é estar no mundo de forma autêntica. E não existe autorreferência sem autoconhecimento. É uma premissa.
Fonte: Luciana Leon, Bacharela em Psicologia e Terapeuta Pós-graduada em Medicina Ayurvédica; é autora do livro “A Síndrome da Gueixa”.






