O médium espírita Divaldo Franco, um dos principais líderes religiosos do Brasil, faleceu aos 98 anos, na noite de ontem. O baiano de Feira de Santana, que lutava contra um câncer na bexiga, dedicou mais de 70 anos ao espiritismo, chegando a ser apontado como sucessor de Chico Xavier.

Conhecido como embaixador da paz no mundo, Divaldo se tornou um dos maiores médiuns e oradores espíritas da atualidade e teve suas obras traduzidas em 17 idiomas.

Entre os seus legados está a Mansão do Caminho, em Salvador, que acolhe e educa, diariamente, milhares de crianças que antes viviam em condições de vulnerabilidade social.

Sem fins lucrativos, a casa de apoio mantém parte do trabalho com recursos financeiros da venda dos livros mediúnicos e das gravações de palestras, seminários e mensagens do próprio Divaldo.

O médium descobriu o câncer em novembro do ano passado. A doença foi diagnosticada depois que sentiu um desconforto urinário.

Começou a tratar o tumor ainda em fase inicial com sessões de radioterapia e quimioterapia. Ele continuava o tratamento em casa, com períodos de internação – recebia atendimento na modalidade home care.

O óbito foi constatado às 21h45 de ontem, por falência múltipla dos órgãos. Ele estava em sua própria casa, na sede da Mansão do Caminho, quando desencarnou de uma forma bem pacífica e serena, segundo pessoas próximas.

Trajetória de vida

Nascido em 5 de maio de 1927, Divaldo era o caçula de 13 irmãos. Teve o primeiro contato com o espiritismo ainda na infância, quando começou a ver pessoas desencarnadas.

Passou por recriminação e até apanhou, devido às visões consideradas demoníacas pela família. A primeira visão foi aos 4 anos, quando presenciou uma mulher magra, de olhos verdes e roupa branca.

A mulher que se apresentou como Maria Senhorinha pediu ao menino que contasse para a sua mãe Anna, que ela havia aparecido – Maria Senhorinha era o nome da avó de Divaldo.

Como Anna não chegou a conhecer a mãe, procurou pela irmã, que constatou que a criança não havia mentido e tinha realmente visto o espírito da mulher.

Quando tinha 7 anos, Divaldo também sofreu com um espírito obsessor que passou a persegui-lo. Mais tarde, o médium descobriu que o espírito buscava vingança por desentendimentos em reencarnações passadas. 

Paralisia das pernas

Aos 17 anos, Divaldo perdeu um irmão que faleceu devido a um aneurisma. Logo após o ocorrido, o médium perdeu os movimentos das pernas e ficou cerca de seis meses acamado.

Como os médicos não conseguiam identificar o que aconteceu, a família procurou a médium conhecida como Dona Naná, que revelou que o espírito do irmão falecido estava perturbado com a morte repentina, por isso, prendia-se as pernas de Divaldo.

Ele voltou a andar após sessões de orações. Com a aproximação de Dona Naná, foi apresentado ao espiritismo. No ano de 1945, o médium resolveu se mudar para Salvador para prosseguir com a sua missão espiritual.

Mas a trajetória não foi fácil. Ao longo da vida, conviveu com o forte preconceito, sendo acusado de loucura e até charlatanismo. Contudo, sempre defendeu a bandeira do espiritismo, semeando paz e luz por onde passava.

Mansão do Caminho

Ao lado de Nilson de Souza Pereira (falecido em 2013) Divaldo fundou em Salvador o Centro Espírita Caminho da Redenção, no ano de 1947, e a Mansão do Caminho, em 1952.

Com o passar dos anos, o local recebeu escolas, oficinas profissionalizantes e disponibilizou atendimento médico em 34 especialidades, atendendo gratuitamente famílias inteiras de baixa renda.

O complexo se tornou referência para quem procura ajuda material, educacional e espiritual. Por dia, são atendidas mais de 5 mil pessoas de todas as idades.

Na parte educacional, diariamente, são atendidos quase dois mil alunos, que iniciam a sua jornada educacional na creche, a partir dos 4 meses, e depois continuam os estudos até o ensino médio.

Apesar de não deixar filhos biológicos, Divaldo era reconhecido por adotar 650 crianças, que cresceram nas antigas casas-lares da Mansão do Caminho.

Ednilson Pereira da Silva, de 54 anos, foi uma dessas crianças. “Legado é de esperança, dar continuidade nessa obra que ele iniciou com tanta dificuldade”, diz Ednilson que trabalha na administração da panificadora que faz pães para as crianças da Mansão.

Obras

Divaldo Franco publicou mais de 260 obras, muitas psicografadas a partir de sua principal mentora espiritual, Joanna de Ângelis. O médium foi responsável por mais de 20 mil conferências, realizadas em mais de 2,5 mil cidades e 71 países.

Em 2015, ganhou uma biografia assinada pela jornalista Ana Landi, intitulada: “Divaldo Franco. A trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos”.

Teve ainda a sua vida e obra retratadas no cinema através do filme “Divaldo – O Mensageiro da Paz”, lançado em 2019.

Devido a sua total dedicação e trabalho às causas humanitárias, recebeu mais de 800 homenagens de instituições culturais, sociais, religiosas, políticas e governamentais.

Fonte: com informações Mansão do Caminho.

(fotos: divulgação Mansão do Caminho)